top of page

Como o Preamar está auxiliando na recuperação dos ambientes coralíneos, que estão sob fortes ameaças dos estressores locais e globais?

29 de maio de 2024

Os corais são animais coloniais formados por “pólipos” e que pertencem à classe Cnidaria. Alguns grupos desses invertebrados podem utilizar minerais da água do mar para construir um esqueleto de calcário branco, assim como seus alvos tecidos. As vibrantes cores que vemos nos corais, com ou sem esqueleto, por outro lado, são decorrentes de algas unicelulares que habitam internamente os pólipos, chamadas 'zooxantelas', e que pertecem ao gênero Symbiodinium. Quando fotossintetizam fornecem condições energéticas e nutrientes para funções essenciais como calcificação, crescimento de tecidos e reprodução, resultando nas belíssimas colônias de corais. Esta relação entre as zooxantelas e os pólipos de coral é um excelente exemplo de uma relação mutuamente benéfica, conhecida como simbiose.

 

Fonte: Renato Vasconcelos.

 Os recifes são estruturas geomorfológicas que podem formar barreiras, franjas ou atóis. Eles podem ser colonizados por diversos organismos, incluindo estruturas tridimensionais carbonáticas bioconstruídas por corais escleractíneos – também conhecidos por corais duros –, e organismos como as algas calcáreas, outros invertebrados e protistas, que se acumulam ao longo de centenas de anos em águas alcalinas e claras. Quando os recifes são formados exclusivamente pelos esqueletos carbonáticos dos corais, são chamados de recifes de coral. Normalmente esses ecossistemas recifais são ricos em corais quando encontram-se em ambientes oligotróficos, relativamente deficientes em nutrientes, e com alta incidência de radiação solar. Em geral são denominados ambientes coralíneos e são considerados verdadeiros oásis da vida marinha pela biodiversidade e produtividade que apresentam! São capazes de abrigar diversas outras formas de vida, muitas das quais beneficiam as populações humanas costeiras com alimentos, compostos para fármacos, rendimentos econômicos e outros bens e serviços ecológicos, tais como a proteção costeira.

 

Praia vista de cima com drone
Praia do Seixas, ponto mais oriental das Américas. Fonte: PREAMAR

Considerados bancos genéticos a serem protegidos e reconhecidos como Patrimônios da Humanidade pela UNESCO devido às relações intrincadas e interligadas com a sociedade humana há milhares de anos, os ambientes coralíneos estão sendo fortemente impactados pelas atividades humanas devido às influências locais e globais.

 

Globalmente, dados do Coral Reef Watch da Administração Nacional Oceânica Atmosférica dos EUA (NOAA), e dezenas de evidências científicas das últimas décadas, indicam claramente que a atmosfera e o oceano estão aquecendo. Isso está ocorrendo, principalmente, devido aos gases com efeito de estufa derivados das atividades humanas. À medida que as temperaturas sobem, ocorre a dissociação das zooxantelas e pólitos dos corais, levando-os ao branqueamento em massa, bem como surtos de doenças infecciosas. Sem a ajuda das microalgas no fornecimento de nutrientes os corais tornam-se vulneráveis às doenças e tornam-se menos capazes de competir com outros organismos epibentônicos. Esse processo pode levar as colônias à morte, afetando gravemente o ecossistema e a fauna recifal associada, fato conhecido por efeito cascata.


Atualmente, estamos vivenciando o quarto evento global de branqueamento já registrado e o segundo nos últimos 10 anos. As pesquisas indicam que pelo menos 54 nações e territórios localizados nas principais bacias oceânicas sofreram um branqueamento em massa ao longo dos seus recifes, desde fevereiro de 2023. 


Recifes com corais branqueados na praia do Seixas. Fonte: PREAMAR

Segundo a pesquisadora do Preamar, Dra. Karina Massei “Nunca testemunhamos esse nível de branqueamento nas áreas que monitoramos, mesmo em conversa com colegas que atuam em outras bacias oceânicas. Entendo que o que está acontecendo é novo para nós e para a ciência. Mesmo que sobrevivam ao estresse térmico, não temos condições de prever de imediato o grau de estresse em termos ecológicos. O fato de podermos ter instrumentos, equipamentos e uma equipe técnica especializada, juntamente com as autoridades ambientais e os povos do mar, fará muita diferença e nos traz esperança”.


Para mitigar os efeitos do branqueamento e auxiliar a conservação e recuperação dos ambientes coralíneos, são necessárias intervenções diversificadas que incluem estratégias biológicas, ecológicas e sociais. Nesse sentido o Preamar tem atuado diretamente em termos locais e globais, destacando-se entre seus objetivos:


(i) monitorar regularmente ambientes coralíneos através de técnicas de sensoriamento remoto combinadas com o uso de drone e monitoramento em campo. A idéia é verificar o fitness do ecossistema, traçando estratégias a fim de evitar o branqueamento dos corais e mitigar os efeitos das alterações climáticas. Estes dados podem ser utilizados para identificar regiões especialmente vulneráveis e potencialmente importantes para serem conservadas.

 

mergulhado fazendo monitoramento com uma câmera subaquática
Monitoramento dos ambientes recifais. Fonte: PREAMAR
(ii) desenvolver técnicas de mitigação colaborativa. As principais estratégicas adotadas atualmente pelo Preamar são: a) implantação de recifes artificiais de recrutamento larval para aumentar o potencial biológico e facilitar o crescimento de novas colônias; e, b) restauração ecológica de corais pelo estabelecimento de viveiros de corais in situ e ex situ. Essas técnicas associadas, per si, auxiliam o combate às mudanças climáticas e à acidificação dos oceanos pelo sequestro de carbono. Outras técnicas que envolvem a manipulação de larvas, melhoramento genético por seleção artificial e inoculação de corais com microrganismos benéficos (probióticos), estão em estudos preliminares.

 

mergulhado apontando para uma estrutura de cultivo de corais.
Viveiro de corais ex situ. Fonte: PREAMAR
Recifes artificiais de recrutamento larval. Fonte: PREAMAR.
(iii) ordenar o uso dos ambientes coralíneos. O acesso para atividades de turismo e pesca nos ambientes coralíneos da Paraíba é relativamente fácil, devido a sua distância da costa e profundidades rasas. Dessa forma, o Preamar está adotando medidas de manejo bottom-up junto aos usuários, com a finalidade de criar um ambiente colaborativo junto ao Gerenciamento Costeiro Integrado do Estado. Avaliar, discutir e ordenar essas atividades em parceira com os órgãos de controle, instituições de ensino e pesquisa, organizações da sociedade civil e comunidades litorâneas, são ações prioritárias frente às pressões antrópicas locais e em um cenário voltado ao desenvolvimento sustentável. 

Turismo náutico. Fonte: PREAMAR.
(iv) Formar operadores de turismo e sensibilizar o público em geral. A compreensão da sociedade sobre o oceano, ambientes coralíneos, serviços ecossistêmicos e efeitos das alterações climáticas, entre outros, podem encorajar a formação de indivíduos e usuários mais responsáveis, incluindo cientistas cidadãos, de modo a apoiarem iniciativas de gestão e conservação. Nesse sentido, o Preamar vem promovendo cursos de formação de “Condutor de Turismo Náutico” e campanhas de educação ambiental junto aos segmentos da pesca, turismo náutico e público em geral. 

Aula prática da formação de condutores de turismo náutico, em parceria com o IFPB e Marinha do Brasil. Fonte: Ensino Profissional Marítimo do IFPB

Esse contexto em que o Preamar se insere, conta ainda com a sinergia de outras iniciativas legais e sociais, tais como as Unidades de Conservação Marinho-Costeiras da região e o compromisso do Poder Público junto ao Gerenciamento Costeiro Integrado. Essa é verdadeiramente uma maré de ações voltadas ao desenvolvimento sustentável da zona costeira da Paraíba e à conservação dos inestimáveis bancos de corais do Estado, para as presentes e futuras gerações.


 

Créditos


Texto: Cláudio Dybas e Karina Massei

Audiovisual: Carlos Soares

bottom of page